Vou de barco

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Pessoal, cada um tem sua forma de driblar o stress. Uns fazem ginástica, musculação. Outros correm. Jogam tênis, futebol, golfe.
Pra mim nada disso funciona. O que me acalma mesmo é água, de preferência do mar, salgada e infinita. Gosto de pescar, embora não seja fanático. Aliás, o que me afasta das pescarias é a mania que os pescadores tem de acordar cedo. Só marcam pescaria às quatro, cinco seis da manhã. Pára com isso..Se é pra sofrer, melhor ir até a farmácia e tomar injeção de benzetacil, que parece coice de égua. Aliás, por falar em coice de égua, eu já tomei um coice na coxa quando tinha uns dezesseis anos e roubava cavalo pra passear aqui na Marginal Pinheiros - que ainda não era Marginal, somente uma estrada de terra na beira do rio - patada essa que passou a três centímetros da hombridade. Eu tenho calafrios só de pensar na desgraça que esse coice podia ter feito. Não teria nem filho, nem netinho, como hoje. Mas, vamos voltar ao assunto. Eu falava de água, de pescar, e, principalmente, de passear de barco. Eu adoro navegar, principalmente no mar. Gosto tanto que já tirei minha carta de Arrais Amador há mais de dez anos, e a de Mestre Amador há cerca de cinco anos.
Tudo começou quando fiz um passeio de escuna em Ubatuba. Eu era campista, acampava num camping do CCB (Camping Clube do Brasil) na praia da Lagoinha há mais de vinte anos. De repente, naquele passeio até a ilha Anchieta, descobrí o mar. E na volta, descobrí o verdadeiro litoral, aquele que não se vê da estrada, as praias escondidas, remotas, inacessíveis por terra, as pedras, as escarpas, as verdadeiras curvas do litoral que só se vê do mar. E aquela imensidão de água, verdinha, azul, transparente, infinita...
Acho que peguei uma febre, que só abrandou quando comprei meu primeiro barquinho de inflar. Pequenininho, dois metros, dois remos, e muita coragem pra dar a volta na ilha da praia da Lagoinha várias vezes, indo e vindo, virando marinheiro.
Mais tarde foi um veleirinho Paturi, na represa de Guarapiranga, e o primeiro curso de vela. Anos mais tarde, uma lanchinha de vinte pés, um "utility boat", barco aberto com um painel central, permitindo percorrer todo o interior do barco em volta do painel de comando. Um motor Mercury de 115 hp. E tome volta. Verdadeiras loucuras fizemos com esse barquinho, eu e o Felipe (vinte pés representam um barquinho de 6 metros de extensão, mais ou menos). Sempre saindo da Enseada, no Guarujá, e indo até Bertioga, dando a volta no Canal, saindo no Porto de Santos, e voltando pela Ilha da Moela, ou fazendo o percurso inverso. Me disse um amigo que essa volta pelo Canal de Bertioga tem 90 kilometros. Era sempre um passeio de três ou quatro horas, a boa velocidade. Mas, fomos também à Ilhabela, e demos a volta na ilha, encarando as ondas enormes do lado voltado para o alto mar. E Barra do Una, onde passamos um reveillon. E Angra dos Reis, para onde enviamos o barquinho (de caminhão), e passamos também um maravilhoso reveillon. E "as Ilhas", lindas, que ficam em frente à Barra do Saí, em S. Paulo.
São lugares maravilhosos, que só quem navega conhece e pode descrever. Quando eu vejo o pessoal na praia, curtindo aquela areia e se torrando todo no sol, fico pensando que eles não sabem o que estão perdendo. Muitos deles poderiam ter um barquinho, e curtir outras praias, exclusivas de quem tem barco, águas mais limpas, maravilhosas, mas nem sabem que podem. Ficam apenas olhando para os barcos que passam ao longe, e sonham...
Aliás, quem navega tem um código á parte. Não um código escrito ou falado, mas uma cumplicidade, que faz o comandante de um mega-barco de cincoenta pés cumprimentar o comandante de um barquinho de vinte pés quando passa por ele com o mesmo respeito que cumprimenta um barco maior. Porque no mar somos todos iguais frente a um elemento maior, uns ajudam os outros, e todos se respeitam. Menos os jet-skis. Parece que jet-skis só caem na mão de idiotas, que ficam andando em volta dos barcos parados, a mais de cinquenta por hora, chacoalhando tudo, espirrando água, fazendo barulho, pondo em risco todo mundo, e acabando com o sossego que o mar nos proporciona.
Não gosto nem de pensar em jet-ski. Nem de falar esse nome. Aliás, agora que vendí meu barquinho só vivo triste e estressado. Não gosto nem de pensar em mar.
Acho até que já enjoei.
Vou parar por aqui.
bay, bay, que eu vou pro mar.

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